Homenagem a Maria leva milhares de cristãos e muçulmanos a Itaipu
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A hidrelétrica de Itaipu transformou-se neste sábado (24) no maior centro de integração étnico-cultural e religioso da América Latina. O encontro “Maria, exemplo para todos nós”, promovido pela Pastoral da Criança Internacional e comunidade islâmica e árabe de Foz do Iguaçu, reuniu cerca de 3 mil pessoas, do Brasil, Paraguai e Argentina, no Mirante do Vertedouro da usina.
Autoridades
políticas e religiosas dividiram o mesmo palco e destacaram a vida de
Maria – mãe do filho de Deus, para os cristãos, e mãe do profeta Jesus,
para os muçulmanos – como exemplo de integração dos povos. Sete tendas
temáticas e um espaço para meditação foram montados para atender o
público.
Estiveram presentes o
diretor-geral brasileiro de Itaipu, Jorge Samek; o vice-governador do
Paraná, Flávio Arns; o prefeito de Foz do Iguaçu, Paulo Mac Donald
Ghisi; o secretário geral do Comitê do Diálogo Cristão Muçulmano,
Mohammad Sammak; o cardeal e arcebispo emérito de Salvador, dom Geraldo
Majella Agnelo; o vice-presidente da Conferência Nacional dos Bispos
do Brasil (CNBB), dom José Belisário da Silva; o guia religioso da
Sociedade Beneficente Islâmica de Foz do Iguaçu, xeque Muhamad Jaafar
Khalil; a coordenadora nacional da Pastoral da Criança, irmã Vera Lúcia
Altoé; e o coordenador da Pastoral da Criança Internacional, Nelson
Arns Neumann.
Representantes da Rede
Global de Religiões pela Paz (GNRC), vindos de países como Nepal,
Índia, França, Turquia, França e de outras quatro nações, também
participaram do evento. Só a CNBB, o mais importante organismo católico
do Brasil, levou Itaipu a 14 autoridades da Igreja. A comunidade
muçulmana da região das três fronteiras foi representada por sete
autoridades.
No Alcorão, livro
sagrado do Islã, Maria é mencionada 34 vezes como exemplo de mulher, à
frente das citações de Jesus, que aparece no texto em 25 ocasiões. O
“hijab”, véu usado pelas muçulmanas, foi adotado pela religião por
influência do traje de Maria.
Presentes
Para
selar o espírito de união entre os povos, Mohammad Sammak entregou
duas imagens de Maria para o arcebispo emérito de Salvador, dom Geraldo
Majella Agnelo, e para o vice-presidente da CNBB, dom José Belisário
da Silva. “Agradeço, muito comovido, a Deus, nosso Pai, que nos deu
essa demonstração do seu amor unindo muçulmanos e cristãos”, disse dom
Geraldo.
“Esta homenagem é uma
ocasião para as famílias conhecerem melhor o exemplo de Maria e,
também, é um momento de união das duas maiores religiões do mundo”,
acrescentou o cardeal, que, junto com Zilda Arns, foi um dos fundadores
da Pastoral da Criança. Zilda Arns morreu durante o terremoto do
Haiti, em janeiro de 2010, quando visitava comunidades carentes
atendidas pela Pastoral.
“Esse é um
encontro valioso e que deve ser registrado na história do Brasil. Os
povos devem buscar pontos e valores em comum para construir um Brasil e
também um mundo mais unido”, afirmou o xeque Mohamed Khalil, guia
religioso da Sociedade Islâmica Beneficente de Foz do Iguaçu.
Jorge
Samek lembrou que a própria Itaipu, empreendimento que une Brasil e
Paraguai, representa uma marca de integração da América do Sul. “Para
construir Itaipu foi preciso muito diálogo e muita compreensão. Não é
muito diferente deste evento de hoje. Nós podemos aqui representar as
diversas crenças em um processo efetivo de integração com cristãos e
muçulmanos, unidos para homenagear Maria”, avaliou.
O
diretor-geral de Itaipu observou que a usina, para gerar energia,
depende essencialmente de um bem da natureza. “A água é o símbolo maior
da vivência e da convivência humana. É impossível ter vida sem água,
esse dom de Deus. Em Foz do Iguaçu, nós temos água do Rio Paraná para
fazer energia, e do Rio Iguaçu para fazer essa beleza que encanta o
mundo, que são as Cataratas”, relacionou.
“A
mil metros de profundidade também passa aqui o maior aquífero da
América do Sul, que é o Aquífero Guarani. Portanto, estamos exatamente
em um local abençoado e que tem a água como protagonista”, completou
Samek.
Para o vice-governador Flávio
Arns – sobrinho de Zilda Arns –, o encontro em Foz do Iguaçu
representa uma etapa importante no caminho pela construção da cultura
da paz. “A paz, eu sempre digo, é consequência da justiça. E a justiça
se constrói pela realização dos direitos humanos básicos – educação,
saúde, assistência, apoio. Então esse é um grande encontro
cristão-muçulmano para a construção da paz. Essa é a grande mensagem
que tem que ser levada para o Paraná, o Brasil e o mundo”.
O
bispo de Foz do Iguaçu, dom Dirceu Vegini, acrescentou que “esse é um
momento importantíssimo para a sociedade porque desejamos, por meio
deste encontro, fortalecer ainda mais o caminho da integração”. “Todos
nós, independentemente da religião, somos defensores da vida e da paz”,
reforçou.
O prefeito de Foz do
Iguaçu, Paulo Mac Donald Ghisi, disse que a cidade é parte de um
movimento mundial histórico de integração entre os povos de mais de 70
etnias que vivem no município. “Foz se sente parte importante do mundo.
Aqui, convivemos com respeito às diferenças. O município trata a todos
com igualdade, independentemente de religião ou de etnia, como manda a
Constituição”.
Integração religiosa e social
Cristãos,
muçulmanos, hindus e seguidores de outras religiões, inclusive a hare
krishna, transformaram o Mirante do Vertedouro num caldeirão de
integração religiosa, étnica e social.
Os
paramentos usados pelas autoridades religiosas e as vestes típicas de
muitos fiéis despertaram curiosidade. Ao longo da manhã, católicas e
muçulmanas posaram lado a lado para um número incontável de
fotografias.
“Eu acho o máximo o
interesse de outras pessoas pela nossa religião. Sou brasileira e sigo o
Islã, mas as diferenças terminam aí. Maria é santa para todos nós”,
disse Sônia Neves da Silva Zahoui, após uma sessão de fotos com
mulheres da Pastoral da Criança.
“Temos
um só Deus e cremos em Jesus", disse Mirian Martinez Rataraf,
argentina muçulmana que vive em Ciudad del Este, no Paraguai. “Esta
experiência ajuda a compreendermos uns aos outros”, completou Mirian.
“Fico feliz por saber que a Santa Maria é amada como exemplo de mulher
em outras crenças, além da cristã”, disse a católica Neuza Carboni, de
Foz do Iguaçu.
Além do aspecto
religioso, o evento teve um forte cunho social. Por meio de tendas como
“Maria, exemplo de Comunicação” os coordenadores da Pastoral da
Criança de todo o País compartilharam com o público as iniciativas da
instituição para proteção à infância.
A
freira Maria Doralice de Oliveira, que vive no distrito de Caaguazú,
no Paraguai, levará ao país vizinho duas ações que conheceu na Pastoral
da Criança. A primeira é para estimular os pais a deixarem os bebês
sempre de barriga para cima – iniciativa capaz de reduzir em 70% o
percentual de mortes súbitas em recém-nascidos. A outra iniciativa é a
campanha que pede a aplicação imediata de antibiótico nas crianças no
momento da prescrição médica. De acordo com a Pastoral, a medida também
reduz a mortalidade infantil por infecções
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