Novos cardeais acentuam predominância europeia no Vaticano
O cardeal brasileiro João Braz de Aviz, 64 anos, é nomeado pelo papa Bento XVI
Mais da metade dos 125 cardeais da Igreja Católica é de
origem europeia. A América Latina, região que concentra maior número de
católicos, continua mal representada entre os principais assessores de
Bento XVI.
Há anos, analistas da religião católica falam na tendência de uma
Igreja mais internacionalizada. Os argumentos para tal diversificação
seriam o crescente número de católicos na América Latina, ao contrário
da Europa, onde a religião dá sinais de debilidade. No entanto, essa
mudança ainda não se reflete no círculo de cardeais, conforme mostra o
Consistório que transcorre neste sábado no Vaticano, com a ordenação
solene de 22 novos cardeais.
Poucos latino-americanos
Os cardeais não são apenas os mais altos dignitários católicos, depois do Papa, como também seus mais importantes assessores. Além disso, formam o Colégio Cardinalício, que organiza a votação para escolha do Papa e, por fim, o elege. Dos 22 novos cardeais recém-nomeados por Bento 16, quatro têm mais que 80 anos, não podendo, portanto, participar mais da eleição papal.
Com o resultado do atual Consistório, a proporção de cardeais
europeus será a maior das últimas décadas: 67 de um total de 125, sendo
quase um quarto, italianos. Na lista dos 22 novos escolhidos pelo Papa,
constam 16 da Europa, dois da Ásia e quatro das Américas. Entre eles, um
brasileiro: dom João Braz de Aviz, ex-arcebispo de Brasília e atual
prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e
Sociedades de Vida Apostólica.
Na verdade, muitos especialistas contavam com a diminuição do papel
tradicionalmente forte dos italianos no Colégio Cardinalício e na Cúria,
o órgão administrativo da Santa Sé. No entanto, ocorre justamente o
contrário.
A composição do atual Colégio não reflete, em absoluto, a dinâmica do
catolicismo mundial nas últimas décadas. Apenas um em cada quatro
católicos vive na Europa; aproximadamente metade se encontra nas
Américas, principalmente na América Latina. Quase a metade dos 1,2
bilhão de católicos do mundo fala português ou espanhol.
Porém, justamente os países onde o catolicismo floresce estão mal
representados no círculo que elege o Papa: o Brasil passará a ter seis
cardeais abaixo dos 80 anos, o México terá quatro. Se a Igreja Católica
tivesse que eleger agora um novo líder, dos participantes do Conclave
apenas 22 cardeais seriam latino-americanos. Além disso, três deles
completam 80 anos de idade em 2012, ficando, assim, fora da eleição
papal.
Dominância alemã
Numa análise mais detalhada dos cardeais europeus, nota-se que, depois da Itália, a Alemanha é a presença mais forte. Com os dois novos nomeados no Consistório deste sábado, são nove cardeais alemães, o maior número na história do Vaticano. Um outro superlativo: aos 55 anos, o atual arcebispo de Berlim, Rainer Maria Woelki, será o cardeal mais jovem da história.
A cerimônia do final de semana vai registrar ainda um outro ponto
interessante: no futuro, 63 dos 125 cardeais que poderão eleger o novo
papa - quase a metade - foram nomeados pelo atual líder da Igreja, Bento
XVI.
Contudo, a distribuição nacional e continental não permite
necessariamente prever o resultado de um próximo Conclave. Na escolha do
Sumo Pontífice, as escolas teológicas e os círculos de amizades são
fatores mais determinantes. Mas, seja como for, parecem bastante
restritas as chances de, num futuro próximo, um latino-americano se
tornar o sucessor de São Pedro.
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