Em Assis, papa pede que a Igreja se livre da 'ameaça do materialismo'
ASSIS - A Igreja Católica, do sacerdote mais modesto ao próprio
pontífice, deve se livrar de toda "vaidade, arrogância e orgulho" e
servir humildemente os membros mais pobres da sociedade, disse o papa
Francisco nesta sexta-feira, 4. O apelo do papa foi feito na cidade de
Assis, no centro da Itália, onde seu homônimo São Francisco viveu no
século 12.
São Francisco é reverenciado pelos católicos e por muitos outros
cristãos por sua simplicidade, pobreza e amor à natureza - qualidades
que o argentino Francisco usa para dar o tom a seu papado desde a
eleição em março.
"Essa é uma boa ocasião para convidar a Igreja a se livrar do
materialismo", disse o papa em um aposento que marca o lugar onde São
Francisco despiu-se quando jovem, renunciando à riqueza de sua família, e
resolveu servir os pobres.
"Há um perigo que ameaça qualquer um na Igreja, todos nós. O perigo
do materialismo. Nos leva à vaidade, à arrogância e ao orgulho", disse
Francisco no aposento ricamente adornado com afrescos da residência do
arcebispo de Assis.
Como vem fazendo frequentemente, Francisco falou de improviso depois
de deixar de lado versões preparadas de dois discursos, claramente
sensibilizado pelas pessoas pobres e doentes no aposento.
Francisco levou um novo estilo de abertura, consulta e simplicidade
ao Vaticano. Poucos dias depois de sua eleição, ele disse que queria ver
"uma Igreja que é pobre e para os pobres". Ele evitou os espaçosos
apartamentos papais em troca de alojamentos espartanos na hospedaria do
Vaticano, e pediu a todos os membros do clero, independentemente do
cargo, que rejeitassem o conforto e saíssem entre os pobres e os
necessitados.
Francisco disse que todos os membros da Igreja, incluindo bispos,
cardeais e o próprio papa, têm que evitar as armadilhas de dar
importância a coisas mundanas e ser mais humildes. "O materialismo nos
traz vaidade, arrogância, orgulho e esses são ídolos... Todos nós
precisamos nos livrar desse materialismo", disse.
Francisco, o primeiro papa não europeu em 1.300 anos e o primeiro da
América Latina, formou três comitês para assessorá-lo na missão de
tornar o Vaticano mais transparente, principalmente com relação a suas
transações financeiras.
Ele também disse que conventos e monastérios católicos vazios deveriam ser abertos para abrigar imigrantes e refugiados.
O papa condenou um mundo "que não se importa com tantas pessoas que
têm que fugir da pobreza e da fome, fugir em busca de liberdade e muitas
vezes encontrar a morte, como aconteceu ontem em Lampedusa". Francisco
se referia ao naufrágio de um barco imigrante na ilha de Lampedusa, ao
sul da Itália, na quinta-feira, no qual mais de 300 pessoas podem ter
morrido. "Hoje é um dia para lamentar", disse Francisco sobre a
tragédia.