Foi
publicada a Carta Apostólica de Bento XVI referente ao "Ano da Fé",
anunciado no domingo, 16 de outubro de 2011, pelo Papa durante a
Celebração Eucarísitca na Basílica Vaticana.
Dividida em quinze
partes, a Carta apresenta as intenções pessoais do Sumo Pontífice, sem a
interferência de nenhuma fonte interna ou externa.
"Partes da carta"
. A
PORTA DA FÉ (cf. Act 14, 27), que introduz na vida de comunhão com Deus
e permite a entrada na sua Igreja, está sempre aberta para nós. É
possível cruzar este limiar, quando a Palavra de Deus é anunciada e o
coração se deixa plasmar pela graça que transforma. Atravessar aquela
porta implica embrenhar-se num caminho que dura a vida inteira. Este
caminho tem início com o Baptismo (cf. Rm 6, 4), pelo qual podemos
dirigir-nos a Deus com o nome de Pai, e está concluído com a passagem a
avés da morte para a vida eterna, fruto da ressurreição do Senhor Jesus,
que, com o dom do Espírito Santo, quis fazer participantes da sua
própria glória quantos crêem n’Ele (cf. Jo 17, 22). Professar a fé na
Trindade – Pai, Filho e Espírito Santo – equivale a crer num só Deus que
é Amor (cf. 1 Jo 4, 8): o Pai, que na plenitude dos tempos enviou seu
Filho para a nossa salvação; Jesus Cristo, que redimiu o mundo no
mistério da sua morte e ressurreição; o Espírito Santo, que guia a
Igreja através dos séculos enquanto aguarda o regresso glorioso do
Senhor.
Desde
o princípio do meu ministério como Sucessor de Pedro, lembrei a
necessidade de redescobrir o caminho da fé para fazer brilhar, com
evidência sempre maior, a alegria e o renovado entusiasmo do encontro
com Cristo. Durante a homilia da Santa Missa no início do pontificado,
disse: «A Igreja no seu conjunto, e os Pastores nela, como Cristo devem
pôr-se a caminho para conduzir os homens fora do deserto, para lugares
da vida, da amizade com o Filho de Deus, para Aquele que dá a vida, a
vida em plenitude» . Sucede não poucas vezes que os cristãos sintam
maior preocupação com as consequências sociais, culturais e políticas da
fé do que com a própria fé, considerando esta como um pressuposto óbvio
da sua vida diária. Ora um tal pressuposto não só deixou de existir,
mas frequentemente acaba até negado. Enquanto, no passado, era possível
reconhecer um tecido cultural unitário, amplamente compartilhado no seu
apelo aos conteúdos da fé e aos valores por ela inspirados, hoje parece
que já não é assim em grandes sectores da sociedade devido a uma
profunda crise de fé que atingiu muitas pessoas.
À luz de tudo isto, decidi proclamar um Ano da Fé. Este terá início a
11 de Outubro de 2012, no cinquentenário da abertura do Concílio
Vaticano II, e terminará na Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei
do Universo, a 24 de Novembro de 2013. Na referida data de 11 de Outubro
de 2012, completar-se-ão também vinte anos da publicação do Catecismo
da Igreja Católica, texto promulgado pelo meu Predecessor, o Beato Papa
João Paulo II, com o objectivo de ilustrar a todos os fiéis a força e a
beleza da fé. Esta obra, verdadeiro fruto do Concílio Vaticano II, foi
desejada pelo Sínodo Extraordinário dos Bispos de 1985 como instrumento
ao serviço da catequese e foi realizado com a colaboração de todo o
episcopado da Igreja Católica. E uma Assembleia Geral do Sínodo dos
Bispos foi convocada por mim, precisamente para o mês de Outubro de
2012, tendo por tema A nova evangelização para a transmissão da fé
cristã. Será uma ocasião propícia para introduzir o complexo eclesial
inteiro num tempo de particular reflexão e redescoberta da fé. Não é a
primeira vez que a Igreja é chamada a celebrar um Ano da Fé. O meu
venerado Predecessor, o Servo de Deus Paulo VI, proclamou um semelhante,
em 1967, para comemorar o martírio dos apóstolos Pedro e Paulo no
décimo nono centenário do seu supremo testemunho. Idealizou-o como um
momento solene, para que houvesse, em toda a Igreja, «uma autêntica e
sincera profissão da mesma fé»; quis ainda que esta fosse confirmada de
maneira «individual e colectiva, livre e consciente, interior e
exterior, humilde e franca». Pensava que a Igreja poderia assim retomar
«exacta consciência da sua fé para a reavivar, purificar, confirmar,
confessar». As grandes convulsões, que se verificaram naquele Ano,
tornaram ainda mais evidente a necessidade duma tal celebração. Esta
terminou com a Profissão de Fé do Povo de Deus, para atestar como os
conteúdos essenciais, que há séculos constituem o património de todos os
crentes, necessitam de ser confirmados, compreendidos e aprofundados de
maneira sempre nova para se dar testemunho coerente deles em condições
históricas diversas das do passado.
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