A riqueza endurece o coração
A parábola do
evangelho do vigésimo sexto domingo do Tempo Comum é uma das mais
conhecidas, tanto que faz parte da cultura popular a lembrança daquele
personagem andrajoso que solicitava esmola às portas da casa de um homem
rico. Hoje ainda há muitos Lázaros que pedem esmolas na porta de nossas
casas luxuosas, ricas e bem guardadas, São os imigrantes que chegam de
países pobres, em busca de um salário que lhes permita viver dignamente.
São aqueles que pedem pelas ruas e nas portas de nossas igrejas. São as
muitas pessoas que procuram pelos serviços sociais do Estado, do
município ou da própria Igreja, em busca de ajuda para pagar a conta de
luz ou para comprar os alimentos necessários.
Também ainda há
muitos ricos que se banqueteiam sem pensar no que acontece para lá das
portas de seus palácios, de suas casas. A maioria contratou um bom
serviço de segurança que impede que os indesejáveis – entre os quais,
naturalmente, estão incluídos os pobres – ultrapassem os limites de suas
formosas mansões.
Provavelmente, a
maioria de nós não pertence a nenhum desses dois grupos. Não estamos
entre os Lázaros deste mundo. Dispomos do mínimo e um pouco mais, As
vezes, até muito mais. Mas também não nos parecemos com o rico de que
trata a parábola e nem com os de nosso mundo, que freqüentam lugares em
que seríamos vistos como andrajosos Lázaros. A partir daí, podemos
pensar que a parábola nada tem a nos dizer. Simplesmente não se dirige a
nós. Em todo caso, nos sentimos mais próximos a Lázaro. Trabalhamos
muito e recebemos pouco. Esperamos que no outro lado nos toque uma boa
vida. Pensamos que melhor nos tocará estar com Lázaro no seio de Abraão.
Mas as
parábolas sempre exageram um pouco a realidade. E o fazem para que
possamos entendê-las melhor. Na oposição entre o rico e Lázaro,
compreendemos melhor que não podemos viver uma vida em que nos ocupamos
apenas de nossos próprios interesses e preocupações.
Lázaro são os
pobres andrajosos que vemos às vezes pelas ruas. Mas ele é igualmente
qualquer pessoa próxima de nós que precisa de carinho e atenção. Em
muitas ocasiões, não é caso de dar dinheiro, mas de oferecer o nosso
tempo, nossa companhia, uma palavra de ânimo e de compreensão. Viver
como cristão significa abrir os olhos para que possamos ver além dos
nossos interesses e desejos, do que nos agrada. Viver como cristão é
interessar-se pelo irmão até o ponto de dar a vida por ele. Exatamente
como Jesus fez.
Colunista do Portal Ecclesia.
Arcebispo
emérito de Juiz de Fora (MG). Cursou filosofia e teologia no Seminário
Maior São José em Mariana (MG). Governou a arquidiocese de Juiz de Fora
entre 2001 e 2009.
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