Carta
apostólica "Porta fidei"
Com a qual o Papa convoca o Ano da Fé
CIDADE DO
VATICANO, segunda-feira, 17 de outubro de 2011 Apresentamos, a seguir, a carta
apostólica publicada hoje em forma de Motu próprio, intitulada “Porta
fidei”, do Papa Bento XVI, com a qual convoca o Ano da Fé.
COM
A QUAL SE PROCLAMA O ANO DA
FÉ
A PORTA DA FÉ (cf. Act 14, 27), que introduz
na vida de comunhão com Deus e permite a entrada na sua Igreja, está sempre
aberta para nós. É possível cruzar este limiar, quando a Palavra de Deus é anunciada
e o coração se deixa plasmar pela graça que transforma. Atravessar esta porta
implica embrenhar-se num caminho que dura a vida inteira. Este caminho tem
início no Baptismo (cf. Rm
6, 4), pelo qual podemos dirigir-nos a Deus com o nome de Pai, e está concluído
com a passagem através da morte para a vida eterna, fruto da ressurreição do
Senhor Jesus, que, com o dom do Espírito Santo, quis fazer participantes da sua
própria glória quantos crêem n’Ele (cf. Jo
17, 22). Professar a fé na Trindade – Pai, Filho e Espírito Santo – equivale a
crer num só Deus que é Amor (cf. 1
Jo 4, 8): o Pai, que na plenitude dos tempos enviou seu Filho para
a nossa salvação; Jesus Cristo, que redimiu o mundo no mistério da sua morte e
ressurreição; o Espírito Santo, que guia a Igreja através dos séculos enquanto
aguarda o regresso glorioso do Senhor.
Não podemos aceitar
que o sal se torne insípido e a luz fique escondida (cf. Mt 5, 13-16). Também o
homem contemporâneo pode sentir de novo a necessidade de ir como a samaritana
ao poço, para ouvir Jesus que convida a crer n’Ele e a beber na sua fonte,
donde jorra água viva (cf. Jo
4, 14). Devemos readquirir o gosto de nos alimentarmos da Palavra de Deus,
transmitida fielmente pela Igreja, e do Pão da vida, oferecidos como sustento
de quantos são seus discípulos (cf. Jo
6, 51). De facto, em nossos dias ressoa ainda, com a mesma força, este
ensinamento de Jesus: «Trabalhai, não pelo alimento que desaparece, mas pelo
alimento que perdura e dá a vida eterna» (Jo
6, 27). E a questão, então posta por aqueles que O escutavam, é a mesma que
colocamos nós também hoje: «Que havemos nós de fazer para realizar as obras de
Deus?» (Jo 6,
28). Conhecemos a resposta de Jesus: «A obra de Deus é esta: crer n’Aquele que
Ele enviou» (Jo
6, 29). Por isso, crer em Jesus Cristo é o caminho para se poder chegar
definitivamente à salvação.
Nesta perspectiva, o Ano da Fé é convite para
uma autêntica e renovada conversão ao Senhor, único Salvador do mundo. No
mistério da sua morte e ressurreição, Deus revelou plenamente o Amor que salva
e chama os homens à conversão de vida por meio da remissão dos pecados (cf. Act 5, 31). Para o
apóstolo Paulo, este amor introduz o homem numa vida nova: «Pelo Baptismo fomos
sepultados com Ele na morte, para que, tal como Cristo foi ressuscitado de
entre os mortos pela glória do Pai, também nós caminhemos numa vida nova» (Rm 6, 4). Em virtude da
fé, esta vida nova plasma toda a existência humana segundo a novidade radical
da ressurreição. Na medida da sua livre disponibilidade, os pensamentos e os
afectos, a mentalidade e o comportamento do homem vão sendo pouco a pouco
purificados e transformados, ao longo de um itinerário jamais completamente
terminado nesta vida. A «fé, que actua pelo amor» (Gl 5, 6), torna-se um novo critério de
entendimento e de acção, que muda toda a vida do homem (cf. Rm 12, 2; Cl 3, 9-10; Ef 4, 20-29; 2 Cor 5, 17).
A vida dos cristãos
conhece a experiência da alegria e a do sofrimento. Quantos Santos viveram na
solidão! Quantos crentes, mesmo em nossos dias, provados pelo silêncio de Deus,
cuja voz consoladora queriam ouvir! As provas da vida, ao mesmo tempo que
permitem compreender o mistério da Cruz e participar nos sofrimentos de Cristo
(cf. Cl 1, 24) ,
são prelúdio da alegria e da esperança a que a fé conduz: «Quando sou fraco,
então é que sou forte» (2
Cor 12, 10). Com firme certeza, acreditamos que o Senhor Jesus
derrotou o mal e a morte. Com esta confiança segura, confiamo-nos a Ele: Ele,
presente no meio de nós, vence o poder do maligno (cf. Lc 11, 20); e a Igreja,
comunidade visível da sua misericórdia, permanece n’Ele como sinal da
reconciliação definitiva com o Pai.
À Mãe de Deus,
proclamada «feliz porque acreditou» (cf. Lc
1, 45), confiamos este tempo de graça.
Nenhum comentário:
Postar um comentário