segunda-feira, 30 de setembro de 2013

A riqueza endurece o coração

A parábola do evangelho do vigésimo sexto domingo do Tempo Comum é uma das mais conhecidas, tanto que faz parte da cultura popular a lembrança daquele personagem andrajoso que solicitava esmola às portas da casa de um homem rico. Hoje ainda há muitos Lázaros que pedem esmolas na porta de nossas casas luxuosas, ricas e bem guardadas, São os imigrantes que chegam de países pobres, em busca de um salário que lhes permita viver dignamente. São aqueles que pedem pelas ruas e nas portas de nossas igrejas. São as muitas pessoas que procuram pelos serviços sociais do Estado, do município ou da própria Igreja, em busca de ajuda para pagar a conta de luz ou para comprar os alimentos necessários.

Também ainda há muitos ricos que se banqueteiam sem pensar no que acontece para lá das portas de seus palácios, de suas casas. A maioria contratou um bom serviço de segurança que impede que os indesejáveis – entre os quais, naturalmente, estão incluídos os pobres – ultrapassem os limites de suas formosas mansões.

Provavelmente, a maioria de nós não pertence a nenhum desses dois grupos. Não estamos entre os Lázaros deste mundo. Dispomos do mínimo e um pouco mais, As vezes, até muito mais. Mas também não nos parecemos com o rico de que trata a parábola e nem com os de nosso mundo, que freqüentam lugares em que seríamos vistos como andrajosos Lázaros. A partir daí, podemos pensar que a parábola nada tem a nos dizer. Simplesmente não se dirige a nós. Em todo caso, nos sentimos mais próximos a Lázaro. Trabalhamos muito e recebemos pouco. Esperamos que no outro lado nos toque uma boa vida. Pensamos que melhor nos tocará estar com Lázaro no seio de Abraão.

Mas as parábolas sempre exageram um pouco a realidade. E o fazem para que possamos entendê-las melhor. Na oposição entre o rico e Lázaro, compreendemos melhor que não podemos viver uma vida em que nos ocupamos apenas de nossos próprios interesses e preocupações.

Lázaro são os pobres andrajosos que vemos às vezes pelas ruas. Mas ele é igualmente qualquer pessoa próxima de nós que precisa de carinho e atenção. Em muitas ocasiões, não é caso de dar dinheiro, mas de oferecer o nosso tempo, nossa companhia, uma palavra de ânimo e de compreensão. Viver como cristão significa abrir os olhos para que possamos ver além dos nossos interesses e desejos, do que nos agrada. Viver como cristão é interessar-se pelo irmão até o ponto de dar a vida por ele. Exatamente como Jesus fez.

Dom Eurico dos Santos Veloso
Colunista do Portal Ecclesia.
Arcebispo emérito de Juiz de Fora (MG). Cursou filosofia e teologia no Seminário Maior São José em Mariana (MG). Governou a arquidiocese de Juiz de Fora entre 2001 e 2009.

 

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